segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O silêncio rondava prolongando os minutos que cansavam lentamente mastigando os sentimentos, com a mesma nitidez de um sonho lembrava da sua silhueta nua formada enquanto caminhava na direção do banheiro em um destes quartos de hotel, ela ao meu lado ainda em silencio me fazia perguntar dentro de mim se o amor deveria ser vivido como apostadores em mesas de poker, esperando um blefe, rodeados de fumaça de cigarros e alguma bebida alcoólica iluminada por uma luz fraca, discreta. Desafiando uns aos outros para a melhor cartada.
Por que não dizer “Sim eu te amo, você é a melhor coisa que eu tenho, entre quatro paredes de concreto, entre quatro paredes de horizontes, céu azul, asfalto e roupas.” Talvez o medo de perder essa rodada de partida? Talvez uma aposta muito alta e o saldo negativo iria fazer alguém vender a alma ao diabo ou a se afogar em um mar de cachaça? Ou quem sabe os vivos pensantes são apenas átomos e egos assustados em serem quebrados, para não se despedaçar e caírem perdidos no espaço que nunca mais iriam se reconstituir. Escolher um pesadelo é confortável, já que não nos dá asas como fazem os sonhos. E agora eu estava sentado com meu cigarro aceso, minha barba cheirando a cerveja, meu jeans sujo e a cabeça cansada de farras e noitadas, querendo apenas amar para ser amado, na ultima noite um bêbado deitado no chão atrapalhando a passagem da classe de pessoas que sonham em serem ricas, ainda parei para ver se ele estava respirando, para o resto da multidão ele era apenas um obstáculo, em outra mesa uma prostituta se vendia por crack, cerveja ou quem sabe um pouco de atenção e um cigarro. “É muita coisa para minha cabeça” pensei, “Eu só queria agora ser amado” pensei novamente, “Não queria ouvir as lagrimas do meu amor agora”(por mais louco que seja ouvir uma lagrima). Olhei em seus olhos ainda em silencio, toda literatura que eu tenho, todos romances que já respirei, toda novela ou filme que assisti não me explicava o que eu sentia, todos os sorrisos que demos juntos passou pela minha cabeça, todos nos suspiros de paixão de saudade de prazer e de amor passaram pela minha cabeça. “Que jogador sou eu? Com quem estou jogando? Quais são as minhas cartas? Meu jogo está perdido?” No ultimo minuto na mesa de apostas que parecia viver baixei minha espada, o ouro os paus, corri da mesa, para alcança-la no meio do transito dizer que a amo, revelando as cartas para os dois ganharem se amarem como tudo que queria de premio, descobrindo que ninguém perde amando, só perde os apostadores em suas mesas de poker com cigarros e charutos queimando no ambiente.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

No bolso de uma calça escrito no papel de cigarro

Que jogo de xadrez é esse? Você abre com um pião de quatro rei e eu te dou uma torre e uma dama decretando que eu quero que você ganhe, ganhe mas nunca me perca... Pois planejei o futuro, nos vi dentro de uma casa, eu aprendendo a fazer massas com um livro de receitas que comprei, você chegando do trabalho e eu escritor vaga-bundo com a louça para lavar...
Mas você me disse que eu não pertenço mais a você. Naquele dia que eu peguei uma BR para te encontrar em um sábado a noite ficou na memória...
Você moveu suas pedras neste jogo, e eu perdi, movendo as minhas de forma errada, agora é você com um rei erguido, de bispos e cavalos intocados...
Enquanto meu rei é um pobre embriagado caído em uma casa preta, meus bispos são loucos, vinhos e vinhos, esqueceram que andam pela diagonal, minha dama é qualquer prostituta...
Fico eu e meu cigarro, uma brasa que se apaga, como apagou nossos sorrisos e as ruas que caminhávamos juntos.
Poesias e poetas, me ensinaram a amar e não me disseram a verdade...
Você diz que acabou, fria como que ganha uma partida de xadrez. Eu prefiro dizer que te amo como um louco que canta para o amor.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Logo logo estarei ficando mais velho, a barba já ficou grisalha a algum tempo, e a beleza jovem de vinte e poucos anos já se perdeu, com ela se perde as vaidades e o sorriso que era bem menos amarelo do que hoje. Amanhã o dia vai começar como todos os outros, depois da meia noite e seus micros segundos que se pode marcar vai dizer que um novo dia começou, o sol vai esta onde sempre esteve, vai pintar lá para as cinco e alguma coisa e com certeza eu devo ainda está acordado e ainda bêbado como todos os dias. Do que importa contar os dias? Poderíamos contar as horas e os segundos, celebrar as datas é inútil, pois todos os dias são iguais, fim de ano muda de data no ano que é bissexto, nem no natal foi a noite que Jesus nasceu, realmente não sei para que servem as datas, odeio calendários e relógios. Ainda lembro quando era jovem, correndo a mil pelo tempo, encantado com o arco-íris, com a lua, com as estrelas, encantado com as lendas da cidade fria que conhecia, com os mistérios dos bares e das mulheres, mas aos poucos vamos aprendendo que tudo não passa de uma ilusão para colorir o vazio, não queria voltar a acreditar no pote de ouro no final do arco-íris como quando eu ainda era uma criança e meu irmão mais velho me contava historias sobre tudo que era fantástico, mas para ser sincero gostaria de ainda ver as suas sete cores e me encantar com sua beleza, mas hoje abro minha janela desse antigo casarão e do meu pequeno apartamento com cheiro de cinzeiro e mofo vejo o arco-íris no céu e ele é apenas um arco-íris como tantos outros que já vi, e assim um beijo é apenas o encontro de duas bocas, uma canção é só um monte de palavras acompanhada por algum instrumento e uma poesia não passa de um sentimento de um poeta desavisado de que todos os sentimentos se perdem, morrem, e então para que sentir? Uma tarde no cinema com sua garota é apenas duas pessoas vendo uma historia e que de nada importa aqueles papos que você escuta enquanto come uma pipoca e bebe uma coca-cola, pois não passa de uma historia e historias existem tantas por ai.
Então logo logo estarei mais velho eu e tantos neste mundo também ficarão mais velhos, e que na verdade todos os dias ficamos mais velhos, os amigos, a festa, a celebração, nada mais é do que nada mesmo, o mundo deveria esquecer as datas, as alianças, se torna frio como um enorme iceberg, e pessoas deveriam ser apenas cubos de gelos caminhando por ai esperando o dia de se derreter. Pois tudo realmente se acaba, aquela sessão de cinema, aquele beijo, o saco de pipoca a garrafa de coca-cola, tudo isso se acaba e vira historia, e até as historias se acabam na memória, me desculpe o Roberto Carlos em seu Lp de 71 com seus detalhes tão pequenos, pois se são pequenos jogue na descarga, acredito que não entope, o que entope é a garganta cheia de emoções que teimamos em carregar conosco, já que a garganta tem apenas sua função respiratória e digestiva. Do que importa as emoções se elas também partem e o nosso coração que teimamos em acreditar que sente alguma coisa, ele apenas bate e o que ele pode sentir é um ataque fulminante que nos mata e leva todas estas baboseiras que teimamos em acreditar.
Já fui jovem, amante inconseqüente de tudo que poderia me apaixonar, já fui jovem e acreditei nas palavras, no aperto de mão, no abraço, no beijo, no sexo, nas pessoas, mas hoje aqui nesta velha cadeira encostada nesta velha escrivaninha, nesta velha maquina de escrever barulhenta e companheira, percebo que fui tão tolo, acreditando em toda grandeza do mundo, amando com toda inconseqüência que alguém pode amar, fazendo meu coração explodir apenas com o toque de um dedo desavisado que minha alma é de vidro, frágil e transparente como um cristal de alguns milhões de dólares que um outro desavisado iludido paga para ter sem imaginar que tudo isso também se quebra e se acaba. Me arranhei tantas vezes como um vinil mal cuidado que a agulha enganchou para repetir a frase que tudo é culpa da inocência do amor, inocência das emoções, inocência dos sentimentos, já que nada tem importância para que se importar? Logo logo, amanhã fico mais velho, mais perto da morte, com certeza nenhum telegrama com parabéns, tenho a companhia de uma boa garrafa de vinho do porto, não preciso de bolo nem de velas, não preciso de ninguém, amanhã é como qualquer outro dia, é como hoje, é como ontem, só não igual dentro de mim, amanhã não sou o jovem de vinte e poucos anos, andando pela noite, sonhando com sentimentos carregados na alma, não sou o mesmo homem, o dia de amanhã será cheio da mesma rotina cansativa de amanhecer, de pôr do sol, de noite estrelada, dentro de mim tudo isso passou, amanhã continuo sendo o Jorge Di Lacio com a certeza que amanhã é só mais um dia para se magoar, essa é a certeza, um dia é só um dia, o que importa é o sentimento que você entregou a estas vinte e quatro horas...

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Recortes da memória



Assim são os encontros, átomos, tempo e espaço, Kerouac e uma maquina de datilografar, as estrelas e os ciganos, John e Paul em Liverpool. Um café e um cigarro se encontram em um fim de tarde, enquanto em algum lugar uma agulha acaricia um vinil.
Lápis e papel, Hitler e o bigode, língua e saliva num ménage com a orelha, uma bela e seu poeta, esquinas e avenidas, a madrugada fazendo companhia a boemia. Lua e gatos, o sol e a janela, o guarda chuva adora a tempestade, o silencio ama a biblioteca, a rosa transa o beija-flor.
Pênis e vagina para os céticos, paus e bucetas para os apaixonados, crimes e tragédias, a noite e o fim da tarde. Paixões e discussões, o amor e seu caso extra conjugal com o ciúme. Os guerreiros e suas espadas, o cisne e o lago para o olhar metafórico dos clássicos, a janela se excita com as caricias dos raios do sol, os encontros são mais que o acaso. O amor pede para eu te convidar para um café...

Recortes da memória

Há tempos não te faço uma declaração. Te deixando dançar sozinha pela noite sem mim. Não elogiei quando você cortou os cabelos, te deixei esperando no sofá da sala até você cair no sono, parecendo que não te amo. Mas não se confunda, eu sou apenas isso aí, às vezes acerto, te encontro te canto e tomamos um café para dois no aurora, aquele café que eu coloco pouco açúcar para sentir o amargo e acender o cigarro enquanto vou mexendo o seu açúcar com a colher de chá. Mas às vezes sem aviso desapareço na noite quase escura de lua quase cheia, uma dose, um pileque, outra ressaca. (De manhã quero tuas caricias para cuidar de mim). Sei que não é assim, quando te faço chorar, não te ligo, nem te digo por onde estou, você quase sempre tem razão de reclamar de eu só lhe procurar quando as estrelas voltam a se esconder, sei que minha amante é a noite e ando cansado de suas caricias frias em mesas de bares, queria te fazer uma promessa, mas não devo arriscar, vou apenas tentar cair no seus braços antes das cinco da tarde, para quando a noite chegar e nos ver amando, se enlouqueça de ciúmes e nunca mais venha me procurar.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Em um pequeno armário na quina da sala bem abaixo de um quadro eu guardava as minhas folhas em branco, jogadas em uma bagunça, antigas letras que deixei escapar, alguns bilhetes de telefones, outras cartas que já nem me interessa os remetentes, papeis e mais papeis, recortes de jornais. Dentro de todo aquele baú de memórias, procurando folhas em branco, encontrei uma folha amarelada, com letras escritas a mão quem sabe tinta bic. Era uma pequena carta com versos do Kerouac que em algum dia não pude entregar.



Jack KerouacPoema 230, de México City Blues.

O amor é o cemitério populoso da podridão.
O leite derramado dos heróis.
Destruição de lenços de seda pela tempestade de pó.
Carícia de heróis vendados presos nos postes.
Vítimas de assassinatos aceitas nesta vida.
Esqueletos trocando dedos e juntas.
A carne trêmula dos elefantes da gentilezasendo despedaçada pelos abutres.
Concepções de rótulas delicadas.
Medo de ratos espalhando bactérias.
A Fria Esperança da Gólgota pela Esperança do Ouro.
Úmidas folhas de outono contra o casco dos barcos.
As delicadas imagens de cola do cavalo-marinho.
Morte por longa exposição à desonra.
Seres assustadores encantadores ocultando seu sexo.
Pedaços da essência de Buda congelados e fatiados microscopicamenteem morgues do norte.
Pômos do pênis a ponto de semear.
Mais gargantas cortadas que grãos de areia.
Como beijar minha gata na barriga.
A suavidade de nossa recompensa.

Suspirei no silencio que castigava... Só poderia está falando para ela...
Ela se vestia de jeans depois de ouvir um velho som, seus tênis, sua boca sem batom, caminhava no asfalto (nem sei no que pensava). Tinha o mesmo charme de uma loja de vinil, tanta literatura e cultura. Cervejas e seu gosto de creme dental me excitando com sua língua, e gosto de nicotina dos tragos em meu cigarro. Ela me sorria, chorava, se calava, eu sabia que ali vivia as emoções, ela era toda minha humanidade, acertos e fracassos. Não sabia se a chamava de femme fatale, de anjo, de puta, de feiticeira, de paixão ou simplesmente pelo seu nome. Um velho amigo eremita uma vez me olhou nos olhos e disse “todas as tuas outras mulheres um dia foram suas filhas, esta é sua única amante" Isso eu nem sabia! Mas se um dia foi colombina, cortesã, camponesa em outra encarnação, pouca me importava, naqueles dias ela era minha.
As duas da tarde poderia ser, as três, as oito da noite. No frio tímido da cidade, na cerveja gelada, no seu abraço me pedindo para lhe guardar. Ela era minha, tatuada em meu peito, sem medo de errar lhe desenhei lentamente em detalhes por toda a historia da minha vida que irei carregar até o meu ultimo suspiro (e se agora eu pudesse escolher que fosse entre as suas pernas em uma noite quente de nosso calor em outro inverno distante depois de sorrir, fumar um cigarro, outro bom cigarrinho e suspirar de amor). Quando a via atravessar a rua, em minha direção, lembrava de erótica musa grega amada por todos os poetas, arranhava seus tênis, fazia barulho no jeans da calça com seu rebolado, me amava ao me abraçar, me amava ao me beijar, me amava quando dizia que fui estúpido e não era para ser daquela forma. Lembro de como ela era bela e como me surpreendia com sua beleza nua espontânea, que nem a Brgitte Bardot nos cinemas fazendo “E Deus criou a mulher” conseguia ser tão adolescente, sexy e descontraída. As vezes pousava para as minhas lentes oculares castanhas de junker que eu queria comer no fim da noitada, de princesa presa em seu castelo querendo ser salva, de mulher intocável de olhar severo para a criancinha que se instalava em mim. Pois ela era minha estrada, foram as curvas que me aventurei em caronas no meio do que um dia já havia sido deserto de amor, era o barulho, era o cinza e o arco-íris da metrópole, era companheira, parceira, chapa, velho, "bicho", foi minha namorada e minha menina, foi o único amor que conseguiu entrar em mim Foi toda minha noite urbana com chuvas e pileques, foi quem me fez sorrir.

domingo, 26 de agosto de 2007

Tudo começa por onde devia começar, eu sentado em minha escrivaninha com minha maquina de escrever, cigarros e uma dose de conhaque sem gelo, na vitrola um disco do Bob Dylan gritando sua gaita, no meu peito o peso do tédio como uma tonelada sufocando meus dias de alcoólatra e saudosista das tardes amenas no Esmeralda Bar, da boemia ao lado dos bons “Bichos” que me acompanhava pela noite fria, de cor azul pelo néon das fachadas dos becos de prostitutas, com espeluncas abertas para jogarmos sinuca sorrindo, bailando na leveza do álcool e de alguma outra droga para curtir o barato da noite. Só a noite com seus bêbados caídos, com sua iluminação laranja dos postes de mercúrio, dos pontinhos vermelhos de pára-raios, da neblina tímida que esfria para nos aquecer correndo dentro de casacos ou blusões de golas levantadas.
Agora gemo dentro deste apartamento, sufocado pelo barulho das buzinas, assustado com secretarias eletrônicas e caixas eletrônicos do banco do brasil que conversam comigo. Em outra época meu gemido já foi bem mais prazeroso, em um ritmo alucinante, agora sou só um suspiro do vendaval, sou apenas um escritor trancado machucando as letras com tão pouca poesia na escrita.